Eu já tinha visto, há algum
tempo, uma reportagem sobre uso de sinais com bebês e crianças e, recentemente,
resolvi pesquisar um pouco sobre o assunto. É possível encontrar sites, vídeos
e textos tratando desse tema. Os sinais para bebês não são destinados para
crianças surdas, mas são apresentados como uma forma de melhorar a comunicação
entre os pais e seu bebê ouvinte, até que esse aprenda a falar. O que é dito é
que o bebê é capaz de realizar sinais simples antes mesmo de ser capaz de falar
as primeiras palavras.
Muitos benefícios são listados na
divulgação do uso de sinais com bebês, entre eles, melhora da comunicação, diminuindo
os momentos de frustração e desconforto; favorecimento da criação de laços mais
estreitos com os pais; aumento da sensação de segurança; melhora da coordenação;
melhor rendimento na escola etc. É importante ressaltar, no entanto, que os estudos que
encontrei apresentam resultados contraditórios.
Eu penso que o uso de sinais com
bebês e crianças pode trazer benefícios, desde que a família os introduza de
forma natural e leve. Se os sinais se tornam uma obrigação e sua aprendizagem
um fator gerador de ansiedade, a comunicação pode se tornar artificial. A
aprendizagem de uma língua pela criança, qualquer que seja, depende de uma
experiência afetiva e significativa com esta. Saliento que essa opinião não se
sustenta na observação direta do uso de sinais com bebês, mas na experiência e
estudo sobre a aquisição da linguagem, de modo geral. Tampouco se refere ao uso
de sinais com bebês surdos.
Duas coisas, no entanto, me
chamaram atenção na pesquisa que fiz. Poucos artigos e vídeos que li se referem
ao uso da língua de sinais pelos surdos. Para mim, uma vantagem que deveria ser
listada em letras maiúsculas seria justamente o fato de familiarizar a criança
com as primeiras noções da língua de sinais, favorecendo que ela venha a se
desenvolver como bilíngue. É claro que o uso de sinais, nesse caso, não promove
fluência na língua, mas apresenta pra criança e pras famílias a existência de
uma outra forma de comunicação, a gestual, ou viso-espacial.
Acho que isso tem como efeito a
segunda coisa que gostaria de comentar: os vídeos e textos, mesmo no Brasil, apresentam
sinais que não são os sinais da Língua Brasileira de Sinais! Certo que a
literatura sobre o tema é essencialmente americana e introduz alguns sinais
básicos da rotina de bebê em Língua Americana de Sinais (ASL), mas seria
extremamente simples encontrar os sinais correspondentes em LIBRAS. Por que não
usar os sinais da nossa língua de sinais?
Foto de Juliana Bebé |