* Pesquisa realizada como aluna do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal da Bahia, com financiamento da CAPES, pelo Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior, e da Fapesb, pelo Programa de Bolsa de Doutorado.

domingo, 28 de junho de 2015

SINAIS PARA BEBÊS

Eu já tinha visto, há algum tempo, uma reportagem sobre uso de sinais com bebês e crianças e, recentemente, resolvi pesquisar um pouco sobre o assunto. É possível encontrar sites, vídeos e textos tratando desse tema. Os sinais para bebês não são destinados para crianças surdas, mas são apresentados como uma forma de melhorar a comunicação entre os pais e seu bebê ouvinte, até que esse aprenda a falar. O que é dito é que o bebê é capaz de realizar sinais simples antes mesmo de ser capaz de falar as primeiras palavras.

Muitos benefícios são listados na divulgação do uso de sinais com bebês, entre eles, melhora da comunicação, diminuindo os momentos de frustração e desconforto; favorecimento da criação de laços mais estreitos com os pais; aumento da sensação de segurança; melhora da coordenação; melhor rendimento na escola etc. É importante ressaltar, no entanto, que os estudos que encontrei apresentam resultados contraditórios. 

Eu penso que o uso de sinais com bebês e crianças pode trazer benefícios, desde que a família os introduza de forma natural e leve. Se os sinais se tornam uma obrigação e sua aprendizagem um fator gerador de ansiedade, a comunicação pode se tornar artificial. A aprendizagem de uma língua pela criança, qualquer que seja, depende de uma experiência afetiva e significativa com esta. Saliento que essa opinião não se sustenta na observação direta do uso de sinais com bebês, mas na experiência e estudo sobre a aquisição da linguagem, de modo geral. Tampouco se refere ao uso de sinais com bebês surdos.

Duas coisas, no entanto, me chamaram atenção na pesquisa que fiz. Poucos artigos e vídeos que li se referem ao uso da língua de sinais pelos surdos. Para mim, uma vantagem que deveria ser listada em letras maiúsculas seria justamente o fato de familiarizar a criança com as primeiras noções da língua de sinais, favorecendo que ela venha a se desenvolver como bilíngue. É claro que o uso de sinais, nesse caso, não promove fluência na língua, mas apresenta pra criança e pras famílias a existência de uma outra forma de comunicação, a gestual, ou viso-espacial.   

Acho que isso tem como efeito a segunda coisa que gostaria de comentar: os vídeos e textos, mesmo no Brasil, apresentam sinais que não são os sinais da Língua Brasileira de Sinais! Certo que a literatura sobre o tema é essencialmente americana e introduz alguns sinais básicos da rotina de bebê em Língua Americana de Sinais (ASL), mas seria extremamente simples encontrar os sinais correspondentes em LIBRAS. Por que não usar os sinais da nossa língua de sinais?

Foto de Juliana Bebé



4 comentários:

  1. Letícia,
    Michael Sandel, filósofo americano, no livro "Contra a perfeição", fala do caso de um casal de lésbicas surdas, que procuraram um doador de esperma surdo, com o intuito de gerar um filho surdo. Conseguiram. Para elas, a surdez não é uma deficiência, mas um traço da personalidade. Dá uma boa discussão!
    Abraço
    Lucas Vasconcelos

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  2. Pois é, Lucas.
    Essa é mesmo uma discussão muito interessante, porque muito complexa. A forma como nos posicionamos costuma revelar até que ponto estamos mesmo dispostos a sustentar a compreensão da surdez como uma diferença e não como uma deficiência. Fiquei muito interessada pelo livro de Michael Sandel, vou procurar. Obrigada! Débora Diniz também tem um bom texto sobre autonomia reprodutiva em que discute o caso de pais surdos que privilegiam a possibilidade de ter filhos surdos. Ele está disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csp/v19n1/14917.pdf
    Um abraço!

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  3. Leta
    Aqui nos EUA é comum o uso de sinais com bebês. Em certas classes do tipo "mommy and me" são até ensinados. Mas me chamou atenção pois não são todos os pais ou crianças que os usam, então até que ponto o uso desses sinais não estariam restringindo a comunicação desses bebês? Até que ponto não estariam trazendo um certo atraso para o uso da linguagem oral? O que você acha?
    Abraços,
    Sara

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  4. Oi Sara! Olha, pra responder com precisão, seria necessário realizar um estudo mais aprofundado, mas eu posso lhe dizer o que acho. A partir da minha experiência com crianças na fase de aquisição da linguagem, eu acho que o uso dos sinais em si não acarreta um atraso da linguagem oral, até porque a apresentação do sinal é sempre acompanhada da vocalização da palavra. Além disso, de modo geral, as crianças costumam ser bem sensíveis e responsivas a diferentes tipos de comunicação. No entanto, pode haver um prejuízo se os sinais deixam de ser um meio de comunicação e se tornam um fim em si mesmo, ou seja, se o adulto estiver mais ocupado em fazer com que a criança aprenda os sinais do que em se comunicar e estabelecer um laço afetivo com ela. Nesse caso, a forma assume mais importância que o conteúdo e a finalidade da linguagem. Como eu disse no texto, só acho legal se for feito de forma leve e natural. De qualquer modo, para aqueles que ficaram interessados, sugiro pesquisar melhor sobre o tema em artigos científicos e não apenas nos textos que fazem propaganda do material.

    Obrigada por sua questão! Um abraço

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